noticias Publicado em 24 de junho de 2014

Rose Marie Muraro (1930-2014) – uma mulher impossível

Rose Marie Muraro (1930-2014) – uma mulher impossível

 Eliane Gonçalves

Feminista, escritora, ativista, empresária, mãe, avó, física e muito mais, Rose Marie Muraro me deixou uma forte impressão quando a conheci, em 1985, ensaiando meus primeiros passos no feminismo brasileiro.  Dona de um corpo branco ornado com uma cabeleira ruiva, óculos de lentes grossíssimas, ela sempre pareceu mais velha e aquelas lentes desviavam a atenção para o rosto da mulher bela que ela era. De suas obras, li primeiro “Os seis meses em que fui homem”, depois, o célebre “Sexualidade da mulher brasileira”. No primeiro, a saga de uma mulher nas malhas da política partidária – ela foi candidata a deputada Constituinte, “quase” eleita pelo PDT, no Rio de Janeiro, em 1986 – tema atualíssimo e complicadíssimo, também. No segundo, a análise das complexas e imbricadas relações entre classe, sexualidade e gênero.

Sua atividade empresarial, como fundadora da Editora Rosa dos Tempos, nos legou traduções de obras fundamentais do e para o feminismo mundial, por exemplo o “Martelo das feiticeiras” (Malleus Maleficarum, escrito em 1484 pelos inquisidores Heinrich Kramer e James Sprenger) que traz uma introdução histórica de Rose. A editora publicou, ainda, coletâneas com autoras contemporâneas das mais diversas, muitas delas já esgotadas.

Para nós, feministas da “geração do meio” (anos 1980) a morte de Rose Marie Muraro é uma perda e tanto, nunca somos gratas o suficiente pelo legado, pela herança, pelo muito que aprendemos. Ela, que se definiu como uma feminista “pré-arcaica” – para explicar que não é nada moderno ou pós-moderno desejar a igualdade – nos deixa um acervo maravilhoso. Uma de suas frases mais lúcidas me faz pensar na ideia de uma revolução cultural permanente em nossas mentalidades, crenças e tabus:

“É possível para cada um de nós refabricar o próprio corpo e a própria cabeça, e ainda mais possível é refabricar as próximas gerações. A grande transformação está em sermos capazes de viver todas as linhas não-vividas do nosso ser e com isso eu sei que o sistema de poder explode.” (MURARO, 1991, p. 272).

Fontes:

MURARO, Rose Marie. Os seis meses em que fui homem. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1990.

MURARO, Rose Marie. Introdução ao Martelo das Feiticeiras. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/dados/livros/memoria/mundo/feiticeira/introducao.html. Acesso em 24 de junho de 2014.

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