noticias Publicado em 21 de abril de 2016
Bela, recatada e do lar: matéria da ‘Veja’ é tão 1792
É evidente a misoginia da qual a presidenta Dilma vem sendo alvo. Um homem no lugar dela não teria a capacidade questionada e nem sofreria ataques tão violentos como os que Dilma vem sofrendo daqueles que não respeitam a legalidade.
O discurso criminoso de Jair Bolsonaro, no dia da votação ilegítima do impeachment na Câmara, mostra isso. Bolsonaro fez alusão a Ustra, homem que comandou o DOI-Codi, e o chamou de “pavor de Dilma”, que foi torturada na ditadura. Independentemente das críticas que se tenha ao governo, é evidente que ela vem sendo vítima de uma sociedade machista.
A matéria de Veja confirma isso ao enaltecer Marcela Temer como a mulher que todas deveriam ser, à sombra, nunca à frente. Destaco que não critico aqui Marcela e mulheres que possuem estilo parecido. O problema é julgar que esse modelo deve ser o padrão.
É não respeitar a mulher como ser humano, alguém que pode estar num lugar de liderança, e que tem o direito de ser como quiser sem julgamentos à sua moral ou capacidade.
Quando li a matéria me lembrei das revistas “femininas” da década de 50 que criavam estereótipos da dona de casa feliz, porém sempre arrumada e maquiada. Mas aí também lembrei que em 1792, Mary Wollstonecraft, escritora, já criticava essas imposições no livroReivindicação dos direitos da mulher”, considerado um clássico feminista e publicado recentemente pela Boitempo Editorial.
Sobretudo no capítulo intitulado “Censuras a alguns dos escritores que têm tornado as mulheres objetos de piedade, quase de desprezo”, Wollstonecraft critica o modo pelo qual alguns escritores e pensadores retratam a mulher. Mesmo aqueles considerados iluministas, em relação à mulher não faziam uso da razão.
Em um trecho no qual critica o filósofo Rousseau, diz: “(…) passa a provar que a mulher deve ser fraca e passiva, porque tem menos força física do que o homem; e, assim, infere que ela foi feita para agradar e ser subjugada por ele e que é seu dever fazer agradável a seu mestre – sendo este o grande fim de sua existência”.
O lado bom da reportagem foi a campanha virtual que feministas lançaram logo após a matéria ir ao ar. Várias estão postando fotos fazendo coisas que a sociedade acredita não serem para uma mulher com a hashtag bela, recata e do lar.
Há fotos com mulheres bebendo, no bar, trabalhando, com roupas curtas, com o objetivo de mostrar que lugar de mulher deveria ser onde ela escolhe estar. Percebe-se como, apesar de alguns avanços que tivemos, a mentalidade machista perdura e é ainda tão 1792…
Fonte: http://www.cartacapital.com.br/politica/bela-recatada-e-do-lar-materia-da-veja-e-tao-1792