FEMI… O QUÊ?

A primeira vez que ouvi esta palavra femicídio foi numa reunião feminista no Rio de Janeiro em 2006, na fala de uma mulher latino-americana, não me lembro se do Chile ou da Bolívia. Eu fiquei muito pensativa, pois, para mim, não estava certa aquela terminologia, uma vez que homicídio não designava apenas assassinatos de pessoas do sexo masculino (agora também alcunhado de (homem)cídio por especialistas que desejam enfatizar as mortes de homens jovens, bem dramático aqui no Brasil). Depois fui entendendo que era mais um desses arranjos linguísticos que dão a um tema banalizado uma forte conotação política, adotando palavras não dicionarizadas, atualizando e engendrando (marcando por gênero, se quiserem) novas formas de percepção do problema.

Em 7 de agosto de 2014, fomos ao centro do poder – Palácio Pedro Ludovico Teixeira – Praça Cívica, na cidade de Goiânia, protestar contra a onda de femicídio que está alarmando a cidade desde janeiro deste ano. Não éramos muitas, pois o feminismo não costuma ser um movimento de massas, de manifestações que se contam aos milhares. Mas éramos bastantes para nos fazer ver, ouvir e notar. É sempre bom ir a uma manifestação organizada por feministas. Primeiro, é maravilhoso reencontrar algumas delas, das velhas gerações. E segundo, melhor ainda, é encontrar as novíssimas gerações, as que se colocam à frente, leem os documentos, lideram as performances e puxam as palavras de ordem. Tento agora me lembrar de como, em círculo, entoamos um canto tribal que soou muito bem: pisa ligeiro, pisa ligeiro…, mas minha memória me trai na melhor parte! Depois, o texto seguinte que foi distribuído, de autoria do grupo feminista de teatro Loucas de Pedra Lilás de Recife (PE): “José, José, prepara o teu café; João, João, cozinha o teu feijão; ô Zeca, ô Zeca, lava a sua cueca; Ernesto, Ernesto, aprenda a fazer sexo; Zequinha, Zequinha, só com camisinha; Tião, Tião, com violência, não! E um não, é um NÃO! Simone, Simone, bota a boca no trombone; Cristina, Cristina, olha a tua vagina; Mulher, Mulher, seja o que quiser!”

As fotos do evento foram tiradas por mim, numa câmera simples de celular, mas já dá para sentir o clima.

Veja as fotos na Galeria de Fotos da página principal.

Eliane Gonçalves
Grupo Transas do Corpo
Ser-Tão  (UFG)