noticias Publicado em 9 de junho de 2011
Marcha das Vadias chega ao Brasil
Suely Oliveira
Tudo começou em Toronto, no Canadá em janeiro de 2011. Era uma palestra sobre segurança no campus e um policial disse às alunas que elas evitariam um estupro se não se vestissem como vadias. “Sluts.” Foi o estopim da bomba. As mulheres se sentiram ultrajadas e consideraram que aquilo era uma declaração oficial de responsabilização da vítima e exigiram uma retratação.
É a velha história. A pergunta que muitos policiais faziam no Brasil (será que ainda fazem?) quando uma mulher estuprada chegava à delegacia para fazer o Boletim de Ocorrência. “Qual a roupa que você estava usando?”
A declaração do policial do Canadá causou tanta revolta que as mulheres resolveram protestar e foram às ruas, na primeira Slut Walk ou Marcha das Vadias. Cerca de 100 mil mulheres marcharam contra o abuso e o assédio sexual. Foto:Getty Imagem
Muitas vestiram lingerie, minissaia, cinta-liga e outras roupas que desafiavam as declarações do policial, para dizer que não é a vestimenta que leva os homens a estuprar as mulheres.
A Marcha das Vadias é um movimento que cresce a cada dia e já aconteceu em mais de 20 cidades dos Estados Unidos e da Austrália. Ganha força também pela internet e pelas redes sociais.
É o que sempre digo em relação à violência contra a mulher, especificamente o assédio sexual e o estupro. Para o imaginário popular, se um homem anda pelas ruas sem camisa, ele está com calor. Se uma mulher sai às ruas vestindo short, minissaia ou top ela está “querendo”, ela está “pedindo”. Não. As vítimas nunca estão pedindo para serem estupradas.
Já pensaram sobre isso? As mulheres estão 24 horas vulneráveis aos ataques, assédios, piadinhas e cantadas de todo tipo. E isso independe da idade, da vestimenta, do local, do horário. É uma sensação péssima de vulnerabilidade. Lembro que uma vez, quando estava grávida do meu primeiro filho, andando pelas ruas de Recife, um homem disse uns impropérios quase no meu ouvido. Eu só consegui chorar.
Nós queremos ser respeitadas, independente da roupa que estamos usando. Queremos o direito de transitar sem sermos molestadas. Não aceitamos justificativas para nenhum tipo de violência.
http://delas.ig.com.br/comportamento/marcha+das+vadias+pretende+reunir+2500+em+sp/n1596999822933.html Trecho da reportagem:
Para Regina Facchini, pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero PAGU, da Universidade Estadual de Campinas, o protesto é uma forma de quebrar o silêncio. “A Marcha das Vadias está ligada ao combate da violência sexual, seja estupro ou a episódios de violência como uma faculdade gritando em coro para a estudante Geisy Arruda que ela é uma vadia. É essa a questão que está ali colocada”, afirma a socióloga, que pretende participar da marcha. “Quando uma mulher se comporta de uma determinada maneira ou tem uma determinada aparência, regula-se o comportamento dela por meio da violência.”
No Brasil, a primeira Marcha das Vadias aconteceu neste sábado em São Paulo e, segundo jornais, reuniu cerca de 300 mulheres. “A nossa luta é todo dia. Somos mulheres e não mercadoria.”
E o protesto continua. Várias capitais já tem agendada a sua Marcha das Vadias. As próximas acontecem em Recife e Belo Horizonte.
Mais:
Fonte: Universidade Livre Feminista
Imagem: Foto de Danilo Ramos, em Rede Brasil Atual
Veja também em nossa página o vídeo da Marcha das Vadias em SP