noticias Publicado em 13 de maio de 2011

Projeto “Kit Contra a Homofobia” pretende combater o preconceito sexual nas escolas. Saiba mais sobre

Não é novidade para ninguém que as escolas brasileiras são ambientes hostis a adolescentes homossexuais, que freqüentemente sofrem preconceito e bullying. Também não é novidade que preconceito se resolve principalmente com educação. Porém, quando o papo é educação para combater a homofobia, o bicho pega. Neste caso, quase toda a população prefere ignorar a necessidade de educar o cidadão — e principalmente o jovem e a criança — sobre esta questão. Não é à toa, portanto, que um projeto do MEC, o Kit Contra a Homofobia, tem causado polêmica e ganhado ferrenhos e furiosos opositores. Vamos entender o que é este projeto.

O Kit Contra a Homofobia, erroneamente apelidado de “kit gay”, foi criado pelo projeto Escola Sem Homofobia, da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação. Consiste de um material didático, contendo cartilha, cartazes, folders e 5 vídeos educativos, que abordam temas como homossexualismo, bissexualismo e transexualismo. A proposta é apresentar este material didático, após a devida capacitação do corpo docente, a estudantes do Ensino Médio, com idade entre 15 e 17 anos.

A polêmica tomou força quando um dos vídeos vazou antes da hora. O vídeo se chama Encontrando Bianca e conta brevemente a história de um adolescente transexual.

Várias críticas ao vídeo foram feitas, a maioria desconsiderando que o mesmo é apenas uma pequena parte de um projeto maior. Portanto, ignoram o contexto em que o vídeo será apresentado e devidamente discutido em sala de aula. Quase todas as críticas que li ao pesquisar o assunto se resumem à premissa de que o vídeo seria uma “apologia ao homossexualismo” e que os alunos da rede pública poderiam se tornar homossexuais (oh, o horror, o horror!) simplesmente por assistirem ao vídeo.

Isso equivale a achar que alguém vai se tornar um serial killer porque viu os filmes do Jason ou que será médico porque assistiu Patch Adams. Não faz o menor sentido. Além do mais, o homossexualismo — e o transexualismo — não são “opções”. Ninguém opta por ser homo, bi ou transexual, da mesma forma que ninguém opta por ser heterossexual. Essa crítica ainda se fundamenta na opinião de que qualquer orientação sexual diferente da heterossexual é errada ou uma doença. Justamente a noção que o projeto pretende mudar.

Outra crítica diz que apenas o vídeo não mudará nada. Argumento que mais uma vez ignora que este vídeo é parte de um projeto educacional maior. Ou que o governo poderia gastar melhor a verba pública em outros projetos, ignorando a importância de combate ao preconceito em um país em que homossexuais apanham na Avenida Paulista por nenhum motivo outro que não a sua sexualidade.

Finalmente, diz-se que este assunto não deve ser abordado nas escolas, pois educação recebe-se em casa. Claro, afinal o objetivo das escolas não é educar… Mas, sim, realmente educação recebe-se em casa. Em casa, na escola, na rua, na mídia, em todo lugar. Portanto, se este é um tema que precisa de esclarecimento e informação, ele deve estar presente em todos os meios, incluindo a escola.

O maior opositor do projeto é o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ). Entre outras pérolas proferidas pelo nobre parlamentar está aquela em que defende “dar um couro” para “corrigir” um filho “meio gayzinho”.

Entre as várias desinformações do deputado está a afirmação de que projeto é voltado para alunos do ensino fundamental, entre 7 e 9 anos, quando na realidade é voltado para o ensino médio, de 15 a 17. Contudo, mesmo que fosse voltado ao ensino fundamental, pergunto: qual seria o problema? O combate ao preconceito e o estímulo à tolerância, de qualquer tipo que seja, deve ser estimulado desde cedo. Aceitamos o combate ao preconceito racial, de gênero e de classe desde crianças. Por que não aceitamos o combate ao preconceito sexual na mesma idade, então? Isso não faz sentido. Portanto, caso o projeto fosse voltado ao ensino fundamental, eu ainda seria totalmente a favor. Claro que a didática poderia ser outra, mais adeqüada à idade, mas o assunto é pertinente a qualquer faixa etária e deve ser discutido.

Se em casa um pai ensina o filho de 7 anos a não ser racista, também deve ensinar a não ser homofóbico. O mesmo deve ocorrer na escola. E, como já disse, na mídia, nas ruas, em qualquer lugar. Não há idade correta para se ensinar a tolerância e o respeito. Este é um aprendizado que deve começar no berço.

[Atualização]: O Conselho Federal de Psicologia se declarou a favor do kit. Saiba mais sobre isso aqui. A Unesco também apóia o kit.

Pesquisando sobre o assunto na internet, foi difícil encontrar informações de qualidade e confiáveis, motivo pelo qual decidi escrever este post. Mas encontrei algumas fontes de informação que ajudam a entender e a problematizar mais profundamente o tema.

O Kit contra Homofobia sendo debatido no programa do Ratinho. Via: Diário T-Lover.

MEC prepara kit anti-homofobia e provoca reação. Via: Terra Magazine.

Entenda o que é o kit contra homofobia do MEC. Via: Revista Lado A.

E no site Petição Pública você pode manifestar o seu apoio ao projeto. Basta clicar aqui.

 

by Gabriel Mallet Meissner em Brasil,GLBT

Fonte: Revista Entre Mundos

30anos
Grupo Transas do Corpo
Ações educativas em gênero,
saúde e sexualidade.