noticias Publicado em 24 de junho de 2011
Reflexões sobre a Participação das Mulheres no #2BlogProg
Nesse final de semana aconteceu o 2° Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que contou com a participação de várias mulheres. Era visível no auditório o equilíbrio entre a quantidade de mulheres e homens. Vale ressaltar que em todas as mesas principais havia a presença de mulheres.
No primeiro dia, a abertura foi feita por Maria Frô, que compôs a mesa juntamente com o blogueiro Ênio Barros. Os dois receberam o ex-presidente Lula e mediaram as conversas com o atual ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. No segundo dia, a mesa foi composta pela deputada federal Luiza Erundina, coordenadora da Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão; pelo jurista Fábio Konder Comparato, autor da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) do Congresso Nacional na regulamentação da comunicação; pelo professor Venício Lima, autor do livro “Regulação da comunicação” e pela jornalista e blogueira Cristina P. Rodrigues, mediadora da discussão. No terceiro dia, a plenária final foi conduzida por Altamiro Borges, Renato Rovai, e Cíntia Barenho, da Marcha Mundia das Mulheres do Rio Grande do Sul. Das oito mesas autogestionadas, seis contavam com a presença de mulheres, sendo que uma dessas mesas, “Mulheres na Blogosfera”, contou com a presença de Niara de Oliveira e das blogueiras feministas Amanda Vieira e Bia Cardoso, além da participação de Chico Capeta trazendo a questão LGBT para a pauta.
Visão geral sobre a participação de mulheres no encontro
A grande participação de mulheres em eventos como esse representa, sem dúvida, um acontecimento bastante significativo, mostrando o quanto já avançamos na nossa luta pelo direito de participar ativamente do espaço público. Entretanto, algumas reflexões ainda devem ser feitas. A participação de mulheres não implica a imediata visibilidade das mulheres e das causas defendidas por e para mulheres. Uma maior democratização ao acesso à comunicação lhes permite exercer seu direito à fala pública, mas não garante que elas sejam ouvidas.
Uma observação mais atenta revela que, muitas vezes, mesmo que as mulheres componham a mesa, elas falam menos que os homens, são interrompidas com mais frequência ou impedidas de concluir sua fala. Muitas mulheres ainda pedem desculpas antes de começar a expressar seus pontos de vista. Desculpas por quê? Por estarem falando? Muitas mulheres sentem-se inseguras e justificam esse comportamento apontando para uma suposta falta de conhecimento teórico, não considerando, assim, a importância de suas próprias opiniões e do conhecimento advindo de suas vivências. Isso me faz pensar que as mulheres têm, sim, conquistado o espaço público, mas a fala pública é uma habilidade que precisa ser desenvolvida e estimulada. Pode ser um pensamento muito ingênuo achar que se trata apenas de questões de personalidade ou habilidades individuais.
A Mesa Auto-Gestionada “Mulheres na Blogosfera”
A mesa “Mulheres na Blogosfera” contou com uma maior presença de mulheres tanto na mesa como na plateia, mas alguns homens marcaram presença e constribuíram com o debate. Durante as discussões foram sugeridas propostas a serem apresentadas na plenária final, entre elas: estimular as blogagens coletivas que estabelecem relações mais solidárias; reforçar a organização horizontal dos eventos de blogueir@s; lutar pela defesa do estado laico; propor a participação de mulheres feministas na organização do próximo encontro; incentivar a representação negra e LGBT nos próximos encontros.
Acredito que para um próximo encontro a mesa de mulheres deva trazer uma pauta ainda mais focada para que o debate ganhe em profundidade. É de fundamental importância dar voz às mulheres, além disso, o movimento feminista há muito tempo defende que o pessoal é político, mas é importante pensar também em agendas coletivas.
Pessoal x Político
A partir disso, podemos pensar na eterna dicotomia público x privado. Como já disse, o movimento feminista há tempos defende que as questões pessoais, principalmente aquelas relacionadas ao corpo e à sexualidade femininas são também questões políticas. Quando as mulheres se encontram e percebem que terão oportunidade de ser ouvidas, as questões pessoais vêem à tona. Esse fato é compreensível porque tais espaços de suporte e apoio para as mulheres ainda são raros. Esses espaços vêm sendo criados na internet, onde as mulheres criam laços e estabelecem redes de solidariedade como acontece na própria lista de discussão das Blogueiras Feministas (se quiser participar, clique aqui) ou em outros grupos virtuais como o Luluzinha Camp. Por isso, é preciso incentivar que mais espaços desse tipo sejam criados para as mulheres e também que as próprias mulheres o criem. Mas é de igual importância a articulação desses espaços femininos com outros espaços. É comum que, em encontros de diversas naturezas, as mulheres fiquem guetizadas. Em outras palavras, mesas, oficinas, grupos de discussão de mulheres transformam-se em espaços para se falar de questões tidas como exclusivamente femininas como gravidez, parto, cuidados com filhos e filhas e com o próprio corpo. Mais uma vez, reforço que essas questões são políticas e, ao mesmo tempo que elas dizem respeito a toda a sociedade, outros temas também dizem respeito às mulheres como economia, meio-ambiente, comunicação etc.
É fundamental que as mulheres continuem se organizando, para que os espaços de solidariedade e de luta se consolidem, para que o pessoal possa sim ser visto como político, mas para que o âmbito individual possa se transformar em coletivo.
Balanço Final
A grande participação de mulheres no encontro representa um fato realmente positivo. O próximo encontro de blogueiros será Encontro Nacional de Blogueir@s Progressistas, sem falsas neutralidades, mostrando que as mulheres também estão presentes. Além disso, a organização do evento conta agora com a presença de uma blogueira feminista. Como costuma acontecer, quando as mulheres reivindicam seu espaço, houve quem argumentasse que se fosse para haver uma vaga para feministas, todas as minorias deveriam ter também (o que pode ser traduzido como uma busca por uma desigualdade que mantenha todos igualmente excluídos). A plenária decidiu que a vaga deveria ser por gênero e não necessariamente feminista. Isso mostra, por um lado, que nós não conseguimos transmitir com clareza nossa proposta: queremos que apareçam outros grupos feministas na blogosfera; e, se conseguirmos influenciar de fato no processo, talvez a nossa presença possa ser diluída na composição no futuro; a ideia nunca foi conquistar um assento permanente para as Blogueiras Feministas. Por outro lado, pudemos perceber na prática a resistência que ainda existe ao falarmos de feminismo, mesmo quando há objetivos em comum. Sendo que o espaço só é conquistado quando as mulheres se organizam e o feminismo é parte disso. Estamos na internet independentemente da blogosfera progressista, mas estamos lá também.
Agradeço as valiosas contribuições que Srta. Bia e Bárbara Lopes deram a este post.