pesquisas Publicado em 27 de janeiro de 2017
AISM – quo vadis?: estudo multicêntrico sobre ações de saúde da mulher, em parceria com o NESP/UnB.
Durante o ano 2000, Goiânia foi um dos estudos de caso da Pesquisa Multicêntrica AISM – Quo Vadis?, coordenada pelo Núcleo de Estudos de Saúde Pública -NESP/UnB, que teve como objetivo principal avaliar a atenção à saúde da população feminina em cinco de suas unidades básicas de saúde, analisando os serviços disponíveis, os principais problemas de saúde, a satisfação das usuárias e o processo de gestão local.
Entendendo o significado histórico do referido estudo para Goiás, estado pioneiro na implantação do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher – PAISM, o Grupo Transas do Corpo não hesitou em atender ao convite para assumir a sua coordenação e execução. À Secretaria Municipal de Saúde coube disponibilizar dados e suas unidades básicas, onde profissionais de saúde e usuárias foram entrevistados.
Além de entrevistas com gestores (Sec. Est. e Mun. de Saúde/coord.AISM); Dinstritos Sanitários ou diretor/a de unidade; prof. saúde (enfermeiras, médicas/os, psicólogas e ass. social – 5/us) e usuárias (15/us., 5 gestantes), a metodologia do estudo constou de: levantamento de informações secundárias das características sócio-econômicas, demográfica e de saúde do município (SMS, DATA-SUS, IBGE), verificação e análise das atas dos Conselhos Estadual e Municipal de Saúde (1998 e 1999) – abordagem temática relacionada à saúde da mulher e observação participante nos serviços (adequação das instalações físicas e atenção às usuárias.
A análise do material colhido nas entrevistas com as usuárias foi realizada a partir de tabulações básicas elaboradas pelo NESP/UnB, sendo as questões qualitativas analisadas pela coordenação local.
A análise dos instrumentos referentes aos profissionais de saúde, gestores, coordenadores e usuárias foi realizada tendo em vista os seguintes blocos temáticos, propostos pela coordenação geral: Percepção dos Conceitos da Política e Avaliação de Normas e Diretrizes; Autonomia e Descentralização; Condições da Oferta; Implementação de Normas e Articulação.
A respeito do tempo gasto na consulta médica de primeira vez, das 79 entrevistadas, 8,9% declararam ter sido atendidas em menos de 5 minutos; 46, 8%, entre 5 e 10 minutos, 20%, entre 11 e 15 minutos e 24 %, mais de 15 minutos. Ao nos depararmos com 76% das mulheres entrevistadas sendo atendidas em menos de 15 minutos, poderíamos nos perguntar como seria possível seguir normas e, ainda registrar satisfatoriamente os dados no prontuário? Como se preocupar em ouvir a paciente, não só em suas queixas relativas à saúde, como também em informações complementares que venham contribuir para a melhor compreensão dos agravos apresentados? Mas, será que as usuárias também pensam da mesma forma?
Das 76% que foram atendidas em menos de 15 minutos em suas primeiras consultas, 58,3% consideraram suficiente o tempo destinado, declarando terem falado tudo o que queriam. Esta discussão passa ao mesmo tempo pela expectativa das mulheres em relação aos serviços, pela qualidade da atenção que, rotineiramente, vêm recebendo e pelo nível de conhecimento adquirido sobre seus direitos. Certamente, em uma situação de maior conscientização e empoderamento, o grau de satisfação poderia ser menor.
Quando ouvimos as 32 gestantes, usuárias dos serviços, constatamos que com relação à consulta médica, 90,6% consideraram bom ou suficiente; 100% acharam que o profissional explicou bem ou muito bem; 96,9% disseram ter entendido bem as explicações, enquanto 1% entendeu apenas uma parte; 96,9% acharam que o profissional foi muito atencioso e comunicativo ou apenas atencioso, enquanto somente 3,1% consideraram pouco atenciosos.
Ficou evidente que a Secretaria Municipal de Saúde não tem uma política de assistência à saúde da mulher que preconize o princípio da integralidade, ainda que alguns discursos e práticas não o percam de vista. Assim, podemos concluir que as estratégias utilizadas para aumentar a cobertura ou diminuir a morbi-mortalidade, apenas reforçam as prioridades voltadas ao período reprodutivo da mulher, perpetuando o antigo modelo de assistência materno-infantil.
A história do PAISM em Goiânia nos mostra, e este estudo de caso vem confirmar, que o desenvolvimento da assistência integral à saúde da mulher vai além de capacitar pessoal e buscar recursos para suas ações. É fundamental atuar junto aos diversos seguimentos da sociedade que se propõem a uma maior reflexão sobre a questão de gênero. Desta forma, é importante que esta discussão se materialize nos currículos dos cursos universitários, especialmente nos da área de saúde, formadores de profissionais diretamente ligados ao atendimento da população feminina.
O relatório final da pesquisa “AISM – Quo Vadis? Goiânia” está disponível no Grupo Transas do Corpo. Contato: Kemle Semerene Costa, kemle@transasdocorpo.clandestina.io e (62) 3095-2301 / 2302.