noticias Publicado em 28 de setembro de 2011

Aborto legal, livre e gratuito já!

Hoje é o Dia Latino-Americano pela Legalização do Aborto na América Latina e Caribe e a divulgação dos primeiros textos suscitaram discussões e polêmicas antigas sobre a questão. Mas mesmo toda a argumentação pró-vida (apenas do feto) não consegue responder por que a grande maioria das mulheres que morre em decorrência de abortos mal feitos (é a terceira causa de morte de mulheres no Brasil) são pobres e negras.

O fato do aborto ser ilegal no Brasil não impede que ele seja praticado. A diferença é que as mulheres com melhores condições financeiras o fazem com toda a segurança e amparo médico em clínicas sofisticadas que nunca são denunciadas e as mulheres pobres o fazem ou em “açougues” (clínicas clandestinas sem nenhuma condição de higiene) frequentemente denunciados ou em casa, com agulhas de tricô e citotec.

A mesma sociedade que condena o aborto não dá nenhuma assistência à maternidade e a Amanda Vieira escreveu um texto muito interessanteabordando esse aspecto da opção pela maternidade:

“…o debate sobre o aborto precisa passar por uma séria reflexão do que significa a maternidade e o desejo de ser mãe. Como é que a sociedade tem preparado as nossas mulheres para isso? Será que nós, mulheres, estamos recebendo o suporte necessário? Nem me refiro a questão financeira, que também é importante, mas em relação ao psíquico: será que a sociedade está despertando o desejo de ser mãe nas mulheres ou estamos enlouquecendo a mulherada com tantas obrigações?

(…) Também acredito que descriminalizar o aborto e legalizar a prática é uma forma de monitorá-lo, de conversar mais com essas mulheres, de saber o que está acontecendo, de efetivamente ajudar a reduzir mortes de mulheres jovens e pobres por esse Brasil.”

É preciso decidir: ou se é favor da maternidade ou não. Mais do que um problema de gênero (e não deveria ser, já que a reprodução é obra de homens e mulheres), a criminalização do aborto é um problema de classe e de raça. São as mulheres pobres, trabalhadoras e mais as negras que sofrem com as consequências de abortos mal feitos ou por serem obrigadas a levar adiante uma gravidez indesejada.

Se no momento da concepção a sociedade está preocupadíssima com a vida do feto, lava suas mãos depois que esse feto nasce e ganha uma cor, uma raça e uma classe. Pró-vida de quem, então, moralistas? Esquisofrenia define essa sociedade que sempre condena as mulheres pobres e em sua ampla maioria negras à culpa, à marginalidade e a péssimas condições de vida que tem como pano de fundo a normatização da sexualidade da mulher e a culpa e pune pelo prazer.

Alguns dados:

  • quase 2 milhões de abortos são realizados por ano no Brasil, sendo que 95% deles em situação de risco
  • quase 800 mil internações nos serviços de saúde por abortos mal feitos
  • quase 6 mil mulheres morrem por ano em decorrência desses abortos mal feitos
  • 1 em cada 5 mulheres já interrompeu uma gravidez ao longo da vida por vontade própria
  • é possível engravidar mesmo tomando anticoncepcional

Por fim:

“A questão do aborto está mal posta. Não é verdade que alguns sejam a favor e outros contrários a ele. Todos são contra esse tipo de solução, principalmente os milhões de mulheres que se submetem a ela anualmente por não enxergarem alternativa. É lógico que o ideal seria instruí-las para jamais engravidarem sem desejá-lo, mas a natureza humana é mais complexa: até médicas ginecologistas ficam grávidas sem querer.

Não há princípios morais ou filosóficos que justifiquem o sofrimento e morte de tantas meninas e mães de famílias de baixa renda no Brasil. É fácil proibir o abortamento, enquanto esperamos o consenso de todos os brasileiros a respeito do instante em que a alma se instala num agrupamento de células embrionárias, quando quem está morrendo são as filhas dos outros. Os legisladores precisam abandonar a imobilidade e encarar o aborto como um problema grave de saúde pública, que exige solução urgente.”(Drauzio Varella, A questão do aborto)

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Aborto legal, livre e gratuito já, porque é um direito da mulher.

Esse post faz parte da Blogagem Coletiva Pela Descriminalização e Legalização do Aborto convocada pelas Blogueiras Feministas para esse 28 de setembro de 2011. Leiam todos os posts da blogagem lá.

Deixo ainda como sugestão o texto da Lis Lemos, Acordei com vontade de fazer um aborto.

30anos
Grupo Transas do Corpo
Ações educativas em gênero,
saúde e sexualidade.