noticias Publicado em 24 de agosto de 2020

Fernanda Calderaro (1978-2020)

Fernanda, com seu sorriso inconfundível e delicioso

Fernanda veio de Jacareí, interior de São Paulo, para compor a equipe do Transas do Corpo em 2005. Trouxe com sua mudança muita garra e seriedade em tudo que se propunha fazer. Tornou-se cada vez mais envolvida com as causas feministas. Uma jovem companheira com a qual tivemos a oportunidade de conviver por um bom tempo e muito aprender com sua simplicidade e competência. Na última vez que nos visitou, há uns dois  anos, o sorriso sincero e o empenho em mudar o mundo ainda eram os mesmos. Que pena que foi tão logo, Fernanda! Pessoas como você fazem falta ao mundo.

Kemle Semerene Costa.

No primeiro plano, da esq. para dir., Eliane, Marília, Fernanda e Marta. Ao fundo, uma das assistentes da biblioteca.

Fernanda veio a Goiânia especialmente para uma seleção do Grupo Transas do Corpo em 2005 concorrendo a uma vaga como assistente de projetos. Logo  vimos que ela reunia muitas qualidades. Com seu jeito meio tímido e silencioso mostrava-se muito firme nas suas ideias, tinha um grande apreço pelo planejamento, pela sistematização das informações, sem perder a oportunidade de juntar a técnica com análise de contextos.  Podemos dizer que foi uma escolha recíproca, ela nos escolheu e nós a escolhemos. Durante sua breve passagem conosco (2005 a 2008), vimos  que seu gesto  de buscar um caminho próprio não parou ali.  Ela seguiu adiante, alçou vôos na academia e fora dela, concluiu um mestrado em psicologia social e se tornou uma grande ativista abraçando as lutas feministas, dos direitos LGBTQI+ e a defesa dos Direitos Humanos. Dizem que a primeira impressão é a que fica, então essa é a imagem encantada que quero carregar.

Lenise Santana Borges.

Grupo GIAS, com Fernanda (à direita, agachada, de camiseta rosa)

Muita gente achava Fernanda parecida comigo, talvez pelos cachinhos nos cabelos, talvez pelo sorriso, ou ambos. Eu adorava sua voz, seu jeito escorpiano algo reservado e tímido que, ganhando confiança, se abria. Em 2006 fizemos um passeio em Pirenópolis com minha amiga Angela Bayer (EUA e Peru) que estava aqui de passagem para uma breve visita. Tenho fotos lindas de Fernanda nas cachoeiras. Em 2010, quando ela cursava o mestrado em psicologia social na PUC/SP, fui a uma banca naquela universidade e nós saímos para jantar e papear. Encontrei uma Fernanda em tudo mais aberta, mais alegre e feliz. Depois, ficamos um tempo sem nos ver. Eu acompanhava de longe sua carreira na área dos direitos humanos na Unesco até que em 2018 como bem lembrou Kemle, nós nos encontramos na pizzaria Artesano aqui bem pertinho de casa. Lembro de suas histórias nada fáceis em relação ao que ela precisava confrontar nesta esfera da defesa dos DDHH  no Brasil. Meu tributo a Fernanda é esta foto aqui em casa naquele mesmo ano de 2006 quando a gente estava trabalhando juntas no Transas do Corpo. Aliás, Fernanda foi por uma temporada curta, minha vizinha aqui no Bela Vista. Saudosa Fe.

Eliane Gonçalves

Elcimar e Fernanda

Conheci a Fernanda Calderaro no ano de 2004. Em 2005 moramos na mesma casa e trabalhamos juntas no Transas. Em pouco tempo construirmos um vínculo de amizade com muito bom humor, trocas profundas e respeito mútuo pelos tempos e processos uma da outra.  Este vínculo permaneceu e se fortaleceu mesmo, posteriormente,  morando em lugares distintos. Sempre nos reencontrávamos, dentro dos nossos tempos limitados, com muito afeto e boas risadas. Das várias lembranças que marcaram os nossos bons encontros, quero ressaltar o nosso debate sobre a música Eu sou neguinha? Eu tentava convencê-la que não era uma pergunta e sim uma afirmação. E ela tentava me convencer que era uma pergunta para além do ponto de interrogação, explicitado na letra e no título da música.  Essa música nunca mais foi e nem será a mesma, eu a ouço e lembro dos nossos argumentos fantasmagóricos. Sou grata por ter tido a oportunidade de ter a Fê como amiga. Tínhamos uma brincadeira do “como amiga” era a piada interna que só nós sabíamos o contexto. Como gargalhávamos! E ninguém entendia. Enfim, é difícil a despedida. A Fê foi uma dessas pessoas que com todas suas inquietações, entregas, desejos de transformar e estar presente contribuiu para aumentar a minha fé nas relações e no poder da amizade.

Elcimar Dias Pereira

30anos
Grupo Transas do Corpo
Ações educativas em gênero,
saúde e sexualidade.