noticias Publicado em 8 de janeiro de 2012

O que é isso, presidenta?

por Maria José Rosadodas Católicas pelo Direito de Decidir

 

É costume dizer que no fim do ano não se deve comer peru ou qualquer outra ave que “cisque para trás”, pois significaria arriscar-se a viver todo o novo ano andando de marcha a ré.

Neste final de 2011, enquanto no Uruguai, seguindo o que aconteceu no México e na Colômbia, o Senado aprova a descriminalização do aborto, no Brasil vivemos o retrocesso.

Nesses países, como também na Argentina, amplas discussões na sociedade apontam na direção de mudanças legais que efetivem o respeito aos direitos humanos das mulheres. Em nosso país, uma Medida Provisória – instrumento herdado do autoritarismo da ditadura militar – decretada em momento oportuno para evitar o debate e a crítica, quer tornar compulsória a maternidade para as mulheres brasileiras.

Nenhum artifício de retórica poderá convencer de que a Medida não diz o que efetivamente diz: Todas as gestantes brasileiras estarão sob a vigilância do Estado e das forças mais reacionárias da sociedade para impedir que a maternidade se realize em nosso país de forma digna do ser humano: como resultado de escolha e decisão pessoal.

A MP assinada pela Presidenta implanta no Brasil a figura da maternidade constrangida. A criação de um cadastro nacional de gestantes havia já sido proposto por um ex-deputado que declarou alto e bom som seu objetivo: combater o aborto. Ora, o Brasil é signatário de documentos internacionais em que se comprometeu a respeitar os direitos das mulheres, especialmente em relação à sua capacidade reprodutiva.

O que leva então o Governo, na figura de sua mais alta representante, a desrespeitar suas próprias decisões políticas? Estaremos diante de uma teocracia disfarçada? Foram públicas e explícitas as pressões de setores religiosos conservadores, contrários à vida das mulheres na última campanha eleitoral. Será então esse cadastro nacional parte do cumprimento de compromissos assumidos naquele momento com tais setores?

Se assim é, repetimos a pergunta: O que é isso, Presidenta? Nossa Constituição, fruto de debate democrático, estabelece respeito às religiões, mas impede o Estado de guiar-se por princípios que impeçam a realização das liberdades individuais, inclusive a de não professar qualquer crença. Não se pode impor doutrinas e valores particulares de grupos religiosos a toda a sociedade. É vergonhoso que, na América Latina, seja o Brasil o país do retrocesso em relação à vida das mulheres, aos seus direitos e à possibilidade da realização livre e desejada da maternidade.

Maria José Rosado é presidenta ONG Católicas pelo Direito de Decidir

Para ler a íntegra da MP 557, clique aqui

PS do Viomundo: Se há algo de divertido no debate até agora é a tentativa de alguns ‘democratas’ de interditar o debate pela desqualificação dos envolvidos, seja atacando quem discorda da linha ‘oficial’, seja atacando quem dá voz aos que discordam. O stalinismo vive!

Fonte: Viomundo

 

Links para outros artigos relacionados à MP 557:

Fátima Oliveira: Governo Dilma submete corpo das brasileiras ao Vaticano

Fátima Oliveira: Sem cuidar do aborto inseguro, combater morte materna é miragem;

Beatriz Galli: A MP 557 é um absurdo; em vez de proteger gestantes, viola direitos humanos;

Juliana Braga: Cadastro de grávidas desagrada feministas.

OPUS DEI NO BRASIL: Governo brasileiro institui sistema de vigilância de gestantes

Feministas contestam sistema de cadastro e vigilância de gestantes;

Cadastro de gestantes e bolsa-chocadeira, por Cynthia Semíramis e Idelber Avelar;

O trófeu final? Nosso útero!

Ativismo sem freio e na banguela… #MP557

 

Fonte: Católicas Pelo Direito de Decidir

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